Dinâmico, Polêmico, Valente e Extrovertido.
Por: Damião Lucena/Patos em Revista , edição 2011.
Por: Damião Lucena/Patos em Revista , edição 2011.
Nenhum
sacerdote foi mais dinâmico, polêmico, extrovertido e valente ao mesmo
tempo, do que o Padre Levi Rodrigues de Oliveira. Nascido em 07 de
dezembro de 1926, filho de Alexandrino Rodrigues de Oliveira e Mariana
Alves de Oliveira, tendo como irmãos: Idelvito, Luíza, José e Nelson, o
despertar para o sacerdócio aconteceu, ainda criança, enquanto ajudava
ao Padre Nicolau durante as celebrações. Quando desenganado no
hospital, após ter sido vítima de um acidente automobilístico, o ainda
adolescente não demonstrava preocupação, afirmando que se morresse iria
para o céu. Mais tarde, após ter sido curado em Recife, acabou
ingressando no Seminário de João Pessoa, custeado pelo genitor.
Sobre as boas condições do pai e sua
conseqüente vantagem com relação aos demais internos, declarava o Padre
Levi: “eu passei 12 anos como o homem mais rico do Seminário, para onde
segui em 1944, com 500 contos de réis. Nem Dom Moisés tinha esse
dinheiro. Mandei fazer uma batina com a referida quantia, o reitor quis
proibir e eu disse a ele que o dinheiro era meu. Como o meu pai era bem
casado, toda a grana ficava nas mãos de minha mãe, que escondia grande
parte na lata de manteiga e depois me dava. O que eu levei comigo
assombrou João Pessoa”.
A ordenação sacerdotal aconteceu em 17
de dezembro de 1955, na Igreja de Nossa Senhora da Guia. Mesmo tendo
trabalhado em Malta, Pombal, São José do Bonfim, além de ter sido
pároco da Catedral de Patos e prestado serviços durante quase dez anos
em João Pessoa, na Casa dos Pobres ao lado do Padre Zé, o Padre Levi
conseguiu maior destaque como vigário de Santo Antônio, igreja
construída com a ajuda dos seus pais e que teve como primeiro pároco,
Manoel Dutra, responsável pela coberta do templo que veio a ruir,
exatamente na época em que o jovem diácono concluía o curso no
seminário e era convidado a assumir o referido posto. Sua primeira ação
foi mandar confeccionar uma estrutura de ferro na Capital Pernambucana,
suprindo o maior problema vivido naquele momento. Em seguida adquiriu
os vitrais e mais tarde transformou a sua igreja na primeira do mundo
em Bíblia, retratando em seu interior o novo testamento e no seu
exterior o antigo testamento, com azulejos adquiridos no Estado de São
Paulo. Vale salientar que o templo de Santo Antônio, na Cidade de
Patos, é também o segundo do mundo em estilo, perdendo apenas para o
que retrata a vida de Maomé, existente em Meca.
O ingresso do Padre Levi na disputa
eleitoral aconteceu na década de 60, oportunidade em que prestava
serviços sacerdotais no município de São José do Bonfim, em atendimento
ao líder político João Dino que, segundo ele, havia sido ameaçado de
morte por um dos candidatos de oposição e precisava desistir da
disputa, sem, no entanto, deixar de ter um representante. O padre
acabou se elegendo prefeito, tendo na pessoa do seu irmão, Idelvito, o
seu vice.
Vale salientar que já havia uma
participação forte do Padre Levi na Política de Patos, integrando o
grupo que elegera prefeito o Dr. Olavo Nóbrega, do qual sempre teve a
promessa de que seria o seu candidato na eleição seguinte, fato que
obrigou a sua renúncia em São José do Bonfim, no ano de 1971, para
poder disputar a chefia do Poder Executivo na Capital do Sertão.
Contudo, afirma que fora traído pelos companheiros de luta: Olavo,
Darcílio, Antônio Murilo e Ruy Gouveia, através de uma manobra
arquitetada pelo então Governador Ernani Sátyro, que passou a investir
alto na candidatura de Aderbal Martins de Medeiros.
A Campanha Eleitoral e a Passeata do Jumento
Há quem diga que se o Padre Levi
tivesse sido candidato nos dias atuais e implementasse os mesmos
procedimentos da campanha de 1972, no mínimo seria preso sem direito à
fiança. Um dos pontos que reforça a afirmação está situado na passeata
dos jumentos que realizou, por proposta de Beca Palmeira e que chamou a
atenção da imprensa internacional. “Me entusiasmei com a idéia e fui a
Santa Luzia onde tinha um circo armado em busca de um urso branco
(apelido de Ernani Sátyro), um leão (que quase pega Zé Gayoso, vestido
de branco e montado a cavalo em frente à Ação Católica), um pavão e daí
por diante o povo trouxe de tudo, até muriçocas em garrafas, tornando a
manifestação em um verdadeiro zoológico, sem muita lógica, ambulante.
Muitos países do mundo publicaram a matéria: Rússia, França,
Inglaterra”. Mais tarde, Levi teve passagens aéreas e estadias
custeadas, para comparecer aos estúdios de TV no sul do país,
simplesmente, para falar sobre o evento dos animais.
Muitos
eram os insultos levados a efeito entre os candidatos, contudo, nenhum
mais forte do que aqueles idealizados por Levi. Podemos relembrar, por
exemplo, que ao final de cada programa de rádio ele sempre pronunciava:
“Tchau Aderbal, Xexéu Durval”, ironizando os nomes dos dois outros
concorrentes. Em resposta foi feita uma música que em sua letra
respondia ao padre: “Se aqueta Lelé, deixa de zum, zum, zum, pega teu
Xexéu leva pra Jerimum”. Jerimum era o antigo nome de São José do
Bonfim, que foi governado por Padre Levi.
Com a derrota para Aderbal, o que
causou uma verdadeira surpresa na cidade e, inclusive, com suspeitas de
fraudes, Levi voltou as disputas dois anos depois e conseguiu se eleger
no mandato de deputado estadual, permanecendo por quatro anos na
Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba. Relata, porém, que pelo
fato de fazer oposição ao Governo do Estado, conseguiu apenas
apresentar projetos, requerimentos e outros procedimentos específicos
da tramitação legislativa.
Como padre, Levi também esteve ausente
do Estado, notadamente nos períodos de fracasso eleitoral, tendo
passado uma temporada no Rio de Janeiro, Niterói e Rio do Ouro. Relata,
sua indignação por certos tratamentos que lhes eram dispensados pelos
dirigentes maiores de sua Igreja. Para ele os padres estão excluídos
dos direitos humanos e relembra a frieza de Dom Eugênio Sales, ao se
apresentar e pedir um espaço na Capital Carioca. A mesma coisa teria
acontecido com Dom Pereira, Bispo de Campina Grande e Dom José, Bispo
de João Pessoa.
Com relação a pontos pitorescos que
realmente surgiram do comportamento peculiar de Padre Levi, o qual
sempre se considerou um democrático acanalhado, podemos relembrar
alguns acontecimentos. O primeiro deles decorreu de uma decisão do
pároco de Belo Horizonte que em um determinado período proibiu os pais
de levar as crianças para a igreja. Aproveitando a ocasião ele apregoou
aos quatro cantos da cidade que levassem os baixinhos para o seu templo
e durante as celebrações insuflava os meninos: “chupem confeito,
brinquem e comam pipoca que amanhã eu mando varrer a igreja”. Tal
iniciativa foi motivo de uma discussão durante uma reunião do clero, só
resolvida com a intervenção do bispo que mandou acabar a proibição.
De outra vez uma senhora de Salgadinho,
fã das suas práticas, pediu que o Padre Levi celebrasse uma missa em
homenagem a um parente. Ele manteve contato com o pároco, por sinal de
nacionalidade holandesa, do qual teve a prévia autorização, mas, antes
da data, o referido colega resolveu proibi-lo, através de um comunicado
oral em uma das igrejas de Patos, momento em que estava sentado no
confessionário, atendendo os fiéis na Campanha da Fraternidade com
outros padres da Diocese. Por pirraça, o sacerdote patoense disse que
não abriria mão e recebeu gritos em troca o que chamou a atenção de
muitos fiéis presentes. Palavras de Levi em resposta: “Se levantar eu
meto-lhe o braço, cabra sem vergonha”. A única iniciativa do holandês
foi comunicar ao Bispo que chamou Levi a sua presença e pediu
esclarecimentos. Depois de narrar o fato, o pároco de Santo Antônio
disse a Dom Expedito: “Mande prender aquele cachorro, senão eu bato na
cara dele dentro da igreja e Vossa Excelência não tente empatar porque
nesse caso não obedeço nem ao Papa”. O certo é que Levi foi a
Salgadinho e fez a celebração.
Por conta do bingo de 05 veículos,
promovido em prol da paróquia de Santo Antônio, o Padre Levi acabou
agredindo fisicamente um Juiz de Taperoá, Dr. Severino, que determinara
a suspensão da publicidade, mesmo depois de ser informado que o
referido evento havia sido liberado pelo Ministro da Justiça. O diálogo
entre o padre e o magistrado, do qual chegou a ser contemporâneo no
seminário, foi o seguinte:
Padre Levi – Olá Severino!
Juiz – Severino não! Dr. Severino. Até minha mãe é pra me chamar assim.
PL- Pois não, Dr. Severino, esse bingo aí é meu…
J- Aqui não tem meu nem seu. Aqui tem lei.
PL- Mas eu tenho ordem do ministro.
J- O ministro manda no Rio de Janeiro. Aqui mando eu.
PL- E o governador?
J- O governador manda na capital. Aqui quem manda sou eu.
PL- E o desembargador?
J- Manda no tribunal. Aqui sou eu.
PL- Pois diga uma autoridade, acima da
sua a quem eu me dirija, uma vez que eu já fui a Patos, Campina, João
Pessoa, Rio de Janeiro e não achei.
J- Não existe.
PL- Nosso Senhor Jesus Cristo, como vai, eu não estava lhe reconhecendo.
J- Você está me desrespeitando dentro da minha casa. Retire-se.
PL- Retire-se o que negro sem vergonha. Eu vou vender cartelas aqui na sua cara e se mandar me prender eu meto-lhe a mão.
O Padre foi aconselhado pelos amigos, a
guardar o revólver que sempre conduzia, mas não deixou de autorizar a
divulgação, o que irritou ainda mais o Juiz, que mais tarde o procurou
em companhia do delegado, lhe dando voz de prisão e tendo em resposta
um baita de um soco na cara, desferido pelo braço direito de Levi.
Posteriormente, o Governador João Agripino acabou afastando o referido
magistrado de suas atividades.
Muitas outras façanhas são registradas
na trajetória do Padre Levi Rodrigues de Oliveira, que para algumas
pessoas não concorda com o celibato, fato que não foi cogitado durante
a entrevista concedida em 2004. Contudo, pelos acontecimentos já
noticiados, não existem dúvidas de que ele está por demais fincado como
uma das figuras de destaque na história de Patos.
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