
A prática de torturas em presídios paraibanos voltou a ser destaque
na mídia nacional. A edição de hoje (16) do Jornal O Globo repercute um
déficit nacional de 168.934 vagas para detentos, que são amontoados em
presídios espalhados pelo país. Em 68% das prisões há mais do que nove
presos por vaga.
Confira abaixo a matéria na íntegra.
O Globo
O Brasil tem um déficit de 168.934 vagas para detentos, que são
amontoados em presídios espalhados pelo país. Em 68% das prisões há mais
do que nove presos por vaga. Apenas no Piauí o número de presos não
ultrapassa ainda o número de vagas. Em números absolutos, os maiores
déficits estão em São Paulo, que tem 62.572 mil presos a mais do que o
número de vagas; Minas Gerais, com 13.515; e Pernambuco, com 15.194. Os
dados do sistema Geopresídios, do Conselho Nacional de Justiça, revelam
que a situação poderia ser pior: há em aberto 162.550 mandados de prisão
que ainda não foram cumpridos. Ou seja, o déficit dobraria.
A superlotação carcerária é o problema mais visível dos presídios
brasileiros, mas há outros. A Pastoral Carcerária fez um relatório
recente no qual apontou a existência de tortura em unidades de Amazonas e
Paraíba. No Rio Grande do Sul, as más condições dos presídios vão de
esgotos entupidos a prédios condenados. Quando chegam à prisão, os
detentos não recebem sequer sabonete. O quadro alimenta a subordinação
de detentos a facções criminosas, que dominam os presídios e, em troca
de um kit de higiene e de proteção, passam a cobrar obediência dos
presos. A ligação, muitas vezes, se estende para fora das celas, após a
libertação.
- Os presídios brasileiros são sim medievais. São barris de pólvora e
vão estourar, não tem como. São Paulo coloca 3 mil pessoas por mês a
mais nas prisões e este número, sozinho, mostra que o sistema se tornou
inviável - diz o padre Valdir João Silveira, coordenador nacional da
Pastoral Carcerária.
Padre Silveira afirma que, em geral, as pessoas não querem tomar conhecimento sobre o que se passa dentro dos presídios.
- Cadeia no Brasil foi feita para quem é pobre e miserável, para quem
já estava acostumado a passar fome. O que me espanta na fala do
ministro (José Eduardo Cardozo, da Justiça) é que ele veio a São Paulo
tratar da questão da violência e não tocou no assunto do fortalecimento
das ouvidorias de polícia, na criação de ouvidorias de presídios. Também
não tocou na criação de um comitê de combate à tortura, que é
imprescindível.
Tráfico de drogas é o crime que mais prende
De acordo com dados do Ministério da Justiça, o Brasil encerrou 2011
com 514.582 presos, sendo que 47% são analfabetos ou têm ensino
fundamental incompleto. Praticamente a metade tem até 29 anos de idade.
Os tipos de crime também chamam a atenção: 82.864 estão presos por
furtos ou roubos sem uso de armas. O crime que mais encarcera
individualmente, porém, é o tráfico de drogas: 119.538 detentos.
Um estudo do Instituto Sou da Paz mostra que a maioria das prisões em
São Paulo é feita em flagrante. Ou seja, é aquela onde o crime não foi
investigado. Em 76% dos casos, a testemunha é da própria Polícia
Militar. Entre os 4.559 denunciados no período da pesquisa (abril e
junho de 2011), a maioria (3.691 ou 80,96%) respondia por um único crime
cometido.
Eduardo Ernesto Almada, juiz de execução penal de Porto Alegre, onde o
Presídio Central chegou a ser proibido de receber mais detentos devido à
superlotação, diz que a política de encarceramento puro e simples se
mostra insustentável. Para ele, é preciso ter políticas públicas
efetivas para que o preso trabalhe durante o cumprimento da pena.
- São medidas que precisam ser debatidas, mas o problema é que esta é uma discussão que não rende votos - afirma o juiz.
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