
Para selecionar e levar os profissionais a essas regiões carentes, o
Governo Federal lançou ontem três editais: um para atração de médicos; outro
para adesão dos municípios que desejam admití-los; e um último para selecionar
as instituições supervisoras.
Será aceita a participação de médicos formados no Brasil, que terão
prioridade no preenchimento das vagas e também a de graduados em outros países,
com preferência para brasileiros. Os estrangeiros só ocuparão as vagas
remanescentes após a escolha destes dois grupos.
De acordo com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, levar os médicos
para as periferias e regiões do interior pode resolver até 80% dos problemas de
saúde da população, mesmo que ainda haja deficiências na infraestrutura das
unidades de saúde desses locais.
“Temos que acabar com essa visão de que saúde só se faz dentro de
hospital. A atenção básica com qualidade, com médico bem preparado para
acompanhar o paciente resolve 80% dos problemas de saúde da população. Isso é
importante para reduzir a lotação dos hospitais regionais. O sistema que
estácentrado no hospital é um sistema doente. Com os médicos presentes no interior,
eles podem dar apoio a centros de especialidades, trabalhar através da
telemedicina e dar suporte aos hospitais de referência”, explicou.
Seguro da legalidade
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse ontem que o governo
federal está “muito seguro” da validade jurídica do Programa Mais Médicos. Ele
rebateu críticas feitas por entidades médicas, entre elas a relativa à criação
do segundo ciclo do curso de medicina, medida que condiciona o recebimento do
diploma à atuação, por dois anos, de alunos que entrarem nesse curso a partir
de 2015, no Sistema Único de Saúde (SUS).
As entidades de classe avaliam que essa mudança é uma exploração do
profissional de saúde.
“Não só o Ministério da Saúde, a AGU [Advocacia-geral da União], a Casa
Civil e todos os ministérios envolvidos estão muito seguros da
constitucionalidade das medidas. Agora, o momento é o do debate no Congresso
[Nacional]”, disse o ministro Alexandre Padilha.
Estrangeiros não serão concorrentes
Brasília (ABr) – A decisão do governo de autorizar a vinda de médicos
estrangeiros sem a aprovação no Exame Nacional de Revalidação de Diplomas
(Revalida), no âmbito do Programa Mais Médicos, é para evitar que esses
profissionais disputem mercado com os médicos brasileiros, disse ontem o
ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Segundo ele, no entanto, todos os profissionais serão avaliados e
atestados por universidades públicas, que são as mesmas instituições com
atribuição e competência, definidas pela Lei.
“Caso as universidades façam a validação do diploma nesse programa,
esses profissionais vão poder trabalhar onde quiserem e disputar mercado com os
médicos brasileiros. O Ministério da Saúde e o da Educação não querem tirar
emprego dos médicos brasileiros. Queremos trazer médicos de fora do país apenas
se as vagas não forem preenchidas e com autorização exclusiva para atuar na
periferia das grandes cidades e em municípios do interior”, disse.
Longa espera e reclamações
O programa Correio Debate, que vai ao ar todos os dias a partir do
meio-dia pela 98 FM, foi dedicado ontem a um tema especial: a qualidade dos
serviços de saúde de João Pessoa, disponibilizados pelas redes pública e
privada.
Os repórteres Éclinton Monteiro, Mislene Santos, Henrique Lima, Adriana
Bezerra e Albemar Santos se passaram por pacientes em cinco grandes unidades de
saúde em funcionamento na Capital: os hospitais públicos do Valentina e Edson
Ramalho, e os hospitais privados Samaritano e Memorial São Francisco, além da
Unidade de Pronto Atendimento Oceania, em Manaíra.
E o resultado não poderia ser mais previsível: horas de espera em filas
quilométricas, acotovelando-se com pacientes dos mais diferentes níveis de
complexidade.
Nos hospitais privados, Henrique Lima e Éclinton Monteiro conseguiram
ser atendidos com espera média de uma hora. Mesmo lá, porém, testemunharam que
o caos na saúde também não poupa quem paga – e muito caro – por planos
privados.
No Samaritano, por exemplo, Monteiro se deparou com um cidadão (cujo
nome é preservado) que se queixava de fortes dores abdominais. Mas, a despeito
de seus apelos, só conseguiu ser medicado três horas depois de dar entrada no
hospital.
No Hospital do Valentina, o repórter Albemar Santos – que de fato passou
mal durante a repórter, com hipertensão – foi atendido e medicado três horas e
meia depois de chegar a unidade de saúde.
Em todos os estabelecimentos, a triagem para identificar os níveis de
gravidade é confusa. No Edson Ramalho, por exemplo, a repórter Adriana Bezerra
testemunhou porteiros e maqueiros interferindo no processo de encaminhamento
dos pacientes. Ela passou 1 hora e 25 minutos em uma fila para a triagem, feita
por uma única enfermeira que, ao atendê-la, se queixava de sede e cansaço.
Funcionários do hospital informaram, pedindo sigilo de identidade, que o
gargalo na triagem é proposital: como o hospital só tem dois médicos para
atender média diária de 300 pacientes, um encaminhamento célere só traria mais
caos aos corredores internos do hospital.
Os dirigentes dos hospitais alegam que boa parte da demanda é provocada
por paciente com necessidades de atendimentos ambulatoriais – e que deveriam
ter procurado os serviços básicos (PSF’s) dos bairros.
A iniciativa do Correio Debate coincide com o lançamento de pacote para
melhor a saúde do País, baixado pela presidenta Dilma Rousseff, que inclui
importação de médicos estrangeiros, abertura de onze mil vagas nas faculdades
de medicina e ampliação do curso – que passa a ser de oito anos, com os dois
últimos períodos dedicados a serviços no Sistema Único de Saúde.
O diretor de radiojornalismo Fabiano Gomes disse que esta foi a primeira
de uma série de reportagens que a equipe do Correio Debate desenvolveu, de
forma coordenada, para testar a qualidade dos serviços públicos.
“Fazemos um jornalismo cidadão e esta é uma das muitas contribuições que
podemos dar a sociedade, dando visibilidade aos problemas que nos afligem”,
disse Gomes.
O coordenador da equipe, Eduardo Carneiro, faz coro: “Vamos continuar a
nos debruçar sobre todos os vespeiros que incomodam o cidadão, nos aguarde”.
Os repórteres também avaliaram a experiência: “É muito positivo
amplificar as queixas dos cidadãos”, disse Albemar Santos.
“São problemas velhos conhecidos de todos, mas que ganham novos
contornos quando amplificados pela mídia – e não seria esse o nosso papel, dar
visibilidade aos problemas do dia a dia da população?”, encerra Éclinton
Monteiro.
Fonte: Correio da Paraíba
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